Salve-se quem puder…a vida

São Paulo cansa…Quis sair de casa para ir numa reunião no outro lado da cidade fiquei desencorajado pelo trânsito.
Nada de reclamar!
Esse fim de semana tive uma experiência prazeirosa que me remeteu ao Ensaio sobre a Cegueira. Era uma oficina de Ecopedagogia. Aprendi que não adianta salvar a natureza mas é necessário salvar a si próprio. Estamos perdidos e o nosso modo de viver não é sustentável. A Natureza ela se transforma e pode até desaparecer e a causa será o Homem. Essa era a apresentação teórica. Havia também uma rodada para saber que ações tomar. Basicamente reconsidere seu consumo, de onde vem e para onde vai o que você consome. Trate de cuidar da sua natureza e não esperar uma ação coletiva. A massificação é uma praga da qual enganosamente pensamos que estamos livres dela. Entre outras propostas me lembro mais dessas.
Depois fomos para a parte prática. Ir ao terreno plantar mudas. Aprender um pouco sobre como, quando e de que modo lidar com a terra e as plantas. Como fazer um minhocário e como aproveitar os resíduos orgânicos para revitalizar a terra. Desperdiçamos muito material orgânico e água. Extraímos mais que necessitamos. Tudo isso já ouvi, li ou vi em algum lugar mas o interessante foi ter recebido toda essa informação em contato com a terra.
A última parte da aula foi uma surpresa muito gratificante. Ficamos todos sentados numa roda com os olhos vendados recebendo diversos elementos na mão para através dos outros sentidos reconhecer cada uma delas.
Voltei ao Ensaio sobre a Cegueira. E desta vez podia me soltar. Tive imagens lindas me identificava com a forma, a textura e o grau de umidade de cada folha que recebia. A limitação que a ‘cegueira’ traz e o fato de que tínhamos que ficar sentados obrigou o resto do corpo a se concentrar em uma percepção localizada e mais profunda. Assim como eu quase todos que participaram tiveram uma pequena viagem. Um devaneio pelos sentidos e pela sua imaginação. Fomos tocados por nós mesmos, pelo que somos capazes de produzir. Consegui entender com clareza o que eles diziam no ínicio que tínhamos que salvar a nós mesmos pois a Natureza não se auto destruiu nós é que destruímos ela. Nos alienamos dela e de nossa natureza.
Acredito que a falta de ação se dá por que vivemos um tempo em que visão impera, em que as imagens nos dominam e nos imobilizam. A visão é, em parte, a geradora da nossa insatisfação. Vemos coisas que nem sabemos o que é e queremos. Queremos que o mundo nos veja mas dirigindo seu modo de olhar. Não somos livres por que podemos olhar a bunda ou a miséria do outro. Talvez tivéssemos que re-visitar todos as belas obras que a Humanidade criou com os olhos vendados e ver com os outros sentidos. Talvez devessemos nos amar de olhos vendados para perceber o outro.
Mas não é o olhar que causa isso mas a visão atrofiada que temos.
Essa semana recebi o e-mail de uma pessoa que conheci em janeiro na Colônia Penal Agrícola onde trabalhei. Ele escreveu que finalmente tinha voltado para casa e que já tinha recebido sua liberdade de volta. Me alegrou muito por que foi alguém que se dedicou muito a oficina e que já tem um livro publicado e um segundo à caminho. Também é uma pessoa que consegui entrar em segundo lugar na faculdade de direito.
Morrer não é nada perto de perder sua liberdade.
Prisão, maus tratos, revoltam.
A sociedade é um conjunto de indivíduos sem exceção. Exclusão é injustiça. De certo que somos livres até para nos auto excluirmos atacando a sociedade, se apropriando aquilo que não lhe pertence, destruindo a liberdade do próximo ou sua integridade física.
A violência de um assalto, de um sequestro, de se sentir ameaçado por uma arma, dificilmente se esquece. Não perdoamos aqueles que nos fazem mal. Mas por que devolvemos o mal com outro maior.
Entretanto para mim seria mais simples se cada um só consumisse a droga que produzisse. Não vendesse e nem fizesse propaganda. Muitos jovens não estariam na cadeia.
Hoje em dia ainda existem poucos que roubam por que estão com fome. FAMINTOS não tem força para roubar. Excluídos, socialmente postos à margem do sistema sócio-econômico tem força.
Além de que o descaso e o medo fazem com que a sociedade recue e dê espaço para ser ocupado de qualquer jeito.
Somos todos responsáveis pela violência e pelo desastre ecológico.
Será que temos força para salvar a nossa vida sem ferir a integridade física do próximo?

1 comentário Adicione o seu

  1. Marilia CB disse:

    Muito bom lero que voce escreveu, hoje…eestou preparando uma oficina, com um amigo – Um cara que tem uma longa e incrível história e hoje tem uma ong que faz teatro com pessoas com afasia).E pra um congresso de junguianos A gente vai lecar pra um congresso de junguianos, analistas, médicos, psicologos…
    Estamos trabalhando com conceitos parecidos – os sentidos, os seus llimiares, a sua privação. É difícil pra caramba desenvolver essas vivências, estamos lidando, além da visão, com audição, tato, propriocepção, lateralidade, linguagem…
    Tive uma experiência com “os cegos” com um pessoal do centro sperimentazione teatrale de milão, me lembro sempre quando voce fala sobre a cegueira.
    Estou fazendo um blog, sobre livros, apareça

  2. Ruth disse:

    Lembra que fiz esse exercicio com o Roberto F.?
    Fiz tamber umas 2 xs. versoes modificadas em seminarios que ja nao lembro o nome. Nao conseguimos enxergar com nossos olhos fisicos que, suprimidos, alterados pelos nossos PRE-conceitos e pela perda de nossa a percepcao fina das nossas virtudes, chegam bem perto da cegueira . Vemos mas nao exergamos. Mas se exercitarmos nossa visao interior, torna-la desapegada portanto livre, cada um de nos noseguindo seu proprio caminho, procurando alcancar seus objetivos, entao recuperamos nossa verdadeira visao e nossa observacao se torna refinada. E a paz, a felicidade verdadeira…

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