O ano que já vai tarde.

Desde de março de 2020 minhas atividades entraram em convulsão. Lockdown, distanciamento social e incertezas. Junta-se a isso um governo que fez de tudo para destruir a cultura.

O ano de 2022 foi só uma continuação de 2021 com mais duas doses de vacina no braço, uma eleição para presidente e uma copa do mundo. O desgoverno de extrema direita conseguiu juntar adversários para se livrarem dele. Escancarou o que perdemos em meio ambiente e humanidade lançando a todos numa crise civilizatório. A consequência disso foi acordar uma grande parte da população para o perigo que a democracia corria e se uniu contra o projeto autoritário do governo.

É claro que esse processo não foi bom. Podíamos estar produzindo alegria ao invés de raiva, beleza ao invés de destruição. A pandemia levou consigo pessoas que poderiam estar com nós. Choramos para cachorro. Sobrevivemos e finalmente podemos deslumbrar um futuro melhor.

O que aconteceu de bom?

As estreias de segunda temporada de O Pico da Neblina pela HBO e Só Se For Por Amor pela Netflix. Os desafios de duas séries preparadas durante a pandemia.

Em 2020 ainda com o pensamento de que logo sairíamos da quarentena começamos a preparação da série Só Se For Por Amor. Uma produção da Netflix com a Coração da Selva e direção artística de Luciano Patrick. Infelizmente a pandemia só piorou e tivemos que esperar.

Em 2021 retomamos logo no início do ano e de novo tivemos que esperar. As vacinas chegaram diminuindo os riscos e aos poucos os números de casos caíram.

Aprendemos a ter mais cuidado. Uma história de paixão, amizade e música que retrata a ascensão de jovens músicos no mundo do entretenimento. Essa jornada pedia uma crescente alegria e expansão do corpo. Uma transformação física extrovertida e com muita dor dentro. Difícil imaginar fazer a preparação misturando atrizes e atores de experiências distintas num veiculo frio que é a internet. Até um certo ponto deu certo e quando tivemos condições de nos encontrarmos presencialmente já éramos velhos amigos. O resultado pode ser visto na tela.

Muito se engana quem pensa que uma segunda temporada é mais fácil por que todos querem mais. Roteiristas querem impulsionar a história mostrando aspectos novos das personagens. A Direção quer imagens de um universo mais denso. Elenco querendo encarar os desafios propostos aos seus personagens com atuações que revelam a complexidade do ser. As atuações são eletrizantes resultado de uma preparação totalmente online equilibrando aspectos da dramaturgia com a composição física das personagens.

Esse projetos me fizeram compreender que é possível realizar um bom trabalho online poupando o elenco de deslocamentos. Realizando um estudo das trajetórias das personagens em grupo ou individual. Escutar as propostas de cada um tornando os ensaios presenciais mais proveitosos. O planejamento foi essencial para o sucesso dos dois projetos.

Buscapé, em busca de um tempo.

Em comemoração aos 20 anos da estreia de Cidade de Deus foi feito um curta metragem dirigido pelo Fred Luz com os atores Alexandre Rodrigues, Edson José, Carol Dal Farra entre outros preparados por mim. Produzido pela Vivo com a O2 filmes o filme conta a história de Buscapé que volta a Cidade de Deus 40 anos depois. Os tempos mudaram, outras batalhas, poesia enfrentando a violência e jovens buscando saídas.

O filme era para ser realizado em 2020 e a produção foi interrompida pela pandemia. Nunca mais ouvi falar até que em junho de 2022 me ligaram. Fiquei muito feliz. Cidade de Deus foi muito importante para mim. Foi meu segundo filme e de longe o que mais me marcou.

O novo elenco tem as poetas Carol dal Farra e Dudu Neves fazendo elas mesmos num concurso de Slam. O dançarino Khalifa Idd fazendo o irmão do Zé Pequeno. Os atores Puelo e Caio Santos são traficantes locais. O drama de Buscapé é revisitar a favela onde cresceu depois de muitos anos. Olhar os fantasmas. Encontrar o fado no amigo. Sempre o destino ensinando o que é viver. A oportunidade de se realizar depende de um ponto de vista.

Os ensaios foram recheados de citações do passado e projeções do futuro. Onde mora a violência também mora a potência que nos faz lutar com armas desiguais: de um lado fuzis; e do outro palavras rimadas com uma intensidade de uma explosão atômica. Só a arte transforma

Uma aventura musical

As Aventuras de José e Durval contam a história da dupla Chitãozinho e Xororó desde a infância no Paraná. Produzido pela GloboPlay e pela O2 Filmes tem a direção artística de Hugo Prata. O elenco conta com Rodrigo Simas, Felipe Simas, Marco Ricca, Andreia Horta entre outros e apresentando as crianças Pedro Tirolli, Pedro Lucas e Duda Galvão.

Um primeiro projeto só com ensaios presenciais desde 2020. A minha maior preocupação foi combinar o cuidado consigo e com outro com o desejo enorme de se abraçar de novo sem medo. As crianças por conta da demora da vacina pediam mais cuidado ainda. Não tivemos no elenco principal nenhum caso. A tensão do momento foi aliviado com um trabalho de prevenção que pudesse nos possibilitar um ambiente seguro e afetivo.

A série estreia em 2023.

Fervendo!

O Meu Sangue Ferve Por Você é o terceiro longa metragem filme de Paulo Machline com quem trabalhei em O Natimorto. Muita paixão no filme inspirado em uma passagem da vida do cantor Sydney Magal. A temperatura subiu em 2020 quando foi decretada a quarentena e tudo parou. Por seis meses o elenco se dedicou aos ensaios online e com tristeza tivemos parar. Os exercícios de improvisação e de construção de personagem feitas por video chamadas amadureceram a história. Todo trabalho foi retomado em 2022. O roteiro e o elenco tiveram mudanças importantes. O tempo de preparação presencial foi reduzido pela metade. O que valeu foi a experimentação que fizemos durante a quarentena.

Estreia prevista para 2023.