Rendas no Ar

Na Preparação dos Atores do filme Rendas no Ar eu pude experimentar algo novo: Trabalhei muito próximo da Direção de Arte, utilizamos lugares e objetos similares aos do filme e ensaiamos muitas vezes com os figurinos.
Os figurinos desta produção de época são maravilhosos. Eles seguem uma compreensão própria do que é a época histórica do filme, do que é o modo de viver das pessoas, do que são as pessoas. Eles não são realistas, eles são da imaginação de um grande artista visual Kabila Aruanda.
Os figurinos dele são a pele da Personagem e vão além de uma ilustração dela ou um indicativo de sua posição social, sua personalidade, seu gosto. Eles trazem um movimento próprio que compõem com o corpo do ator. O bom gosto, a ousadia, os contrastes de formas são sedutores. Eles propõe uma complexidade humana em camadas de tecido, em textura de cor, em fios, linhas, curvas, bicos, volumes que o ator imediatamente reconhece. Os figurinos não se revelam com facilidade. Todo o figurino é sugestivo, imaginário. É um jogo de convenções, de atrair e afastar, de movimentos que jogam com o olhar.
Isto inspirou os atores. Eles se deram conta de que o próprio figurino dizia mais do seu interior, da sua personalidade, que faziam uma função dramática de ampliar a sua visão do personagem ao invés de simplesmente cobrirem seus corpos , escondendo-se por detrás dela a flor da sua pele.
Os figurinos de Kabila Aruanda propiciam uma exposição ainda maior das personagens. Eles estão nus em sua pele construida.
O que vestimos é uma parte de nossa identidade, cada um é o que o outro vê e entender ver mas a massificação nos torna iguais. É difícil mesmo encontrar o que nos distingue. Agora estou em um Hotel em Caracas, a não ser pelo modo de falar, somos todos semelhantes. Os empregados uniformizados e os hóspedes vestidos. É uma idéia de democracia que que todos podem vestir o que o outro veste.
O que é dentro e o que é fora quando se pensa na pele e no sentido do tato.
A pele, assim como todo o corpo é apenas uma embalagem para abrigar nossos sentimentos, nossos pensamentos, nossa verdade, nossa anima?
Renegados a um segundo plano no trabalho do ator os sentidos, não confundir com sentimentos, são um meio para acessar a imagens, sensações, reativar e flexibilizar nosso pensamento.

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