O segundo e o terceiro dia e o fim antes do começo

O segundo dia de filmagem como ator.
Entre o primeiro dia de filmagem e o segundo um intervalo de sete dias.
A situação é outra. Cena dentro de uma locação.
Três páginas de roteiro. Um ‘bife’ de informações escrito como se fosse um relatório. Me senti um locutor.
Uma cena com muito pouco movimento e que tarde demais percebi ser muito chato.
A minha insegurança com a insegurança do diretor quase geram uma crise. Ele muito gentil tentando uma última cartada me traz até o monitor e me mostra a última tomada. A minha reação foi dizer “E”…ele me disse “eu sei que você vai fazer algo”. Isso é resposta. Já havia acontecido antes com outro diretor mas não era o momento. Frustrado me levantei com ímpeto e voltei pro set. Eu quero ser dirigido. Mas tudo que ele me diz são coisas que já sei e não me motivam. A mania de colocar tudo como se fosse fácil sem ver o que poderia haver de errado na cena. O ator é culpado de tudo.
Volto para cena. Bambi mamãe morreu! Vou me desdobrando, me motivando e me segurando para não dar um grito. Em certo momento me sentindo completamente abandonado me lanço a fazer do meu jeito. Mas o texto emperra. Meus colegas atores tem mais liberdade com seus personagens. Um só comenta e o outro reage ao que digo questionando o que digo por que estou analisando ele.
Aceitei o desafio por que o diretor naquele momento soube me pegar de jeito e além de que eu queria fazer um filme como ator.
Teve um momento que quis mandar tudo às favas.
Hoje, o dia seguinte, o diretor me pergunta se estou bem. Acho que fui bem duro com ele. E me diz delicadamente que a cena ficou uma merda e que ele está pensando em refilmar.
Fiquei feliz mas se ele não mudar nada. Se não reduzir ou simplesmente mudar o foco do díalogo vai continuar sendo um desastre.
Pelo que voces devem estar lendo não estou feliz.
Podia ter previsto isto? Eu li o roteiro várias vezes e alertei o diretor de que a cena era muito longa e informativo…mas como não ia fazer deixei prá lá. Eu podia estar enganado e ele poderia dirigir a cena de modo a levar para algo inesperado. Isto não estava no roteiro e não é bom sair julgando alguém sem conhecimento de como ela quer fazer a cena. Por tudo que aconteceu, o modo como foi parar dentro do elenco, não pudemos ensaiar.
Admito que não pensei em muitas propostas mas sei que o diretor também está fechado nas suas idéias. Agora eu acredito que ele queira rever.
Domingo passado eu estava tomando café com minha amiga Sara e contando minha aventura quando o celular toca. Era o diretor que me disse que não queria dizer isso por telefone mas que enfim não havia outro jeito, que ele estava angustiado, que admitia que tinha feito um erro e que ainda havia tempo para reparar. Enfim fui despedido!
Na hora senti pena dele. Quanto dinheiro e esforço jogado fora. Quanta displicência com seu trabalho. Quanta cegueira e surdez por que eu já tinha alertado ele que ao me convidar ele estava tentando uma proposta totalmente diferente do que ele havia proposto inicialmente.
Para mim estou coletando dados para que eu possa fazer o meu filme.
Quando? Sem data. Ainda me falta um roteiro que me inspire. Na hora não me deu vontade de despejar a minha insatisfação. Ele só elogiava meu trabalho de preparador. A minha contribuição positiva e importante para a qualidade do filme…enfim não me vinha vontade de dizer para ele que ele não tinha tido pulso para me dirigir. Que lhe faltava inspiração. Eu apenas disse aquilo que havia dito anteriormente que estava disposto a lutar pelo filme. Que continuaria lutando…
Porém dei força. A minha vaidade de ator não ficou ferida por que vi que a situação dele era difícil. Entendi o ‘miscasting’ e que eu ficaria muito mal no filme.
Incrível eu já tinha previsto isto antes e ninguém me escutou.
Terminou a minha saga como ator num filme que vou deixar por enquanto sem nome.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *