O Ator Imaginário em NYC

No meu último post eu ainda escrevia sobre os Pontos de Cultura, sobre os nove documentários que dirigi e que agora estão em pós produção. Estão ficando lindos. Algumas idéias ainda podem ser melhor exploradas mas ficarão para uma próxima temporada, se houver. Enfim a Beleza desses lugares está presente. A Alegria, a Dignidade, o Prazer, a Generosidade das pessoas que fazem a diferença na sua comunidade!
Axé!
Já faz um mês mas muitas coisas aconteceram. Tivemos, o André Meirelles e eu que re escrever os roteiros (ainda faltam dois). Fizemos assistindo todo o material bruto.
Nesse meio tempo surgiu um convite de ir para New York participar do processo de seleção de um ator para um filme americano. O diretor inglês Stephen Daldry me convidou por que queria conhecer de perto meu trabalho e para que eu desse meu parecer sobre os candidatos. A dificuldade é que o ator é uma criança e ela sustenta o filme.
Foi muito bom o trabalho. Eram seis crianças, todas diferentes e talentosas. A maioria tinha alguma experiência com tv, comercial ou teatro. Algumas já tinham até seu próprio coach (a minha função nos EUA recebe esse nome apesar de eu não gostar). Salvo por um os candidatos vinham de lugares como Califórnia, Canadá, Inglaterra mas os testes iniciais já haviam sido feitos até na Austrália.
A produção é um baixo orçamento em NYC, onde se diz que é a cidade mais cara para filmar. Minha estadia seria de uma semana que ocuparam bem.
O diretor já tinha a sua equipe que havia trabalhado com ele em produções anteriores. Ele mesmo é um diretor que vem do teatro e trabalha muito com o ator. Enfim uma situação diferente do que havia experimentado aqui. Sobretudo por ser em inglês e por me confrontar com um estilo de preparação diferente de como estou acostumado aqui.
Ele tem um Dialogue Coach, um preparador de díalogos, de sotaques, uma pessoa que estuda com o ator cada frase do díalogo, buscando a inflexão, a musicalidade, a intenção. Enfim uma pessoa muito competente e de confiança do diretor mas que faz como técnica e não como uma direção definitiva. Achei interessante e puxado. Mas vi que eles dominavam o assunto e fui absorver um pouco do trabalho deles.
Ciente de que modo de trabalhar é diferente propus ao diretor para que eu desse uma oficina com os seis meninos ao mesmo tempo. Argumentei que seria bom para romper uma situação de competição entre as crianças, diminuindo a ansiedade e aumentando a confiança em nós. Fiquei curioso em ver como seria recebido meu trabalho e ciente de que teria se fosse o caso me adequar as condições daquele momento. Aqui no Brasil gozo do fato das pessoas já me conhecerem e saberem como trabalho mas lá não.
Foi um sucesso. Em dois exercícios os meninos estavam à vontade e o diretor e sua equipe puderam ver mais deles do que nos encontros anteriores.
Assim eu recebi  “carta branca” para trabalhar como quisesse com as crianças.
Busquei trabalhar a agressividade e afetividade. A história, que não vou contar aqui, é uma história de família onde a personagem principal é essa criança.
Ela aparece em boa parte do filme e por definição teria que ter uma palheta de ações, cores, movimentos grande indo do drama à comédia. Além de ter muito carisma.
No fim de toda essa sessões discutimos estratégias e a dramaturgia para entendermos qual a melhor opção e o melhor candidato.
As diferenças de modo de trabalhar foram reconhecidas mas entendidas como complementares. A língua não foi problema nem a diferença cultural. No fundo temos as mesmas necessidades, a abordagem que cada um faz difere, mas se completa quando trabalhado em equipe. O grande aprendizado desta viagem é a necessidade de se preparar a equipe e como a liderança faz a diferença.
Liderança se alcança necessariamente por conhecimento humano. O domínio da técnica é importante mas a capacidade de administrar o equipamento humano é fundamental. Num projeto complexo é necessário ter mais de uma liderança mas elas precisam estar em harmonia.
Da minha parte eu fui com o intuito de somar. Tenho muita confiança na minha metodologia e na minha abordagem do ator. O reflexo disto foi que ganhamos tempo e qualidade apesar do pouco tempo e da pressão. Isto se deve ao fato de que o que eu proponho é muito acessível, transparente e prazeroso (libertador se pensarmos na criatividade). E eu não sou rígido mas criterioso.
Ainda está indefinido se eu volto para fazer parte da produção mas certamente deixei um belo cartão de visita.

1 comentário Adicione o seu

  1. Puxa que experiência bacana Chris!!! Parabéns!!! Muito legal que eles gostaram!

  2. Roberto Gervitz disse:

    Oi Chris, muito interessante essa função de Dialogue Couch, que é algo que eu gosto muito de trabalhar nos meus filmes. Como o diretor acompanha isso, uma vez que eu acho que essa deveria ser uma parte importante de suas atribuições? É certo que ele deve ter grade confiança nessa pessoa, mas fico pensando qual será a graça para ele quando for dirigir se não puder trabalhar essa nuance? Muito interessante a descrição do trabalho que você desenvolveu. Abraço, Roberto

  3. Lívia disse:

    Chris… adoro o que você escreve! Mas sempre tenho a sensação de que queria ouvi-lo mais!! Por que você não gosta de ser chamado de coach? Fala mais sobre o estilo de preparação de lá, as diferenças daqui… Você trabalhou a semana inteira com as crianças todas? Como foi esse processo de escolha? Que bom, que bom poder circular entre diversos ambientes e se fazer entender, e levar essa sua transparência no trabalho pra outras terras… Você merece; nós atores merecemos; a arte merece um tratamento criterioso, como o que você sempre busca. Avante! Beijos,
    Lívia.

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