Mais História e Menos Stories!

Após uma semana de paralisia em que todos os repasses da Ancine estão congelados fica difícil pensar em outra coisa que não seja a situação atual do Brasil. E pensar em como agir.  Precisamos mobilizar, refletir, fazer pressão e retomar o fluxo de trabalho.

Para mim foi um projeto que encerrou abruptamente faltando poucas semanas para rodar. Um trabalho com não atores e atores. Um grande desafio e um momento intenso de troca de experiências e aprendizados. A pessoa que embarca num projeto sem experiência anterior, sem estudo de atuação, sem a ambição de fazer uma carreira de ator, aceita pelo desejo de experimentar algo novo. O que ele experimenta pode lhe dar muito prazer, pode lhe fazer se ver de outro modo e sem dúvida a pessoa aprende algo sobre comunicação.

Hoje com as redes sociais, o youtube, os vlogs, … as pessoas tem a experiência do self broadcasting ou auto difusão, o que pode ser muito bom mas é muito limitado pois a verdadeira comunicação é feita de troca de informações e de afetos onde a experiência é construída em conjunto. Por mais que a vias de transmissão virtuais sejam práticas elas não conseguem agregar o afeto. Elas só transmitem a informação. O afeto se dá quando o indivíduo se expõe para outro indivíduo presencialmente.

Em muitos anos trabalhando com teatro, cinema e televisão tive a oportunidade de encontrar jovens talentosos, ávidos de ter voz, de sair da sua invisibilidade, de fazer algo diferente para si e para sua comunidade. Esses jovens apesar da narrativa construída em torno deles de fracasso, de não servirem para nada, de serem buchas para o tráfico ou para o competitivo mercado de trabalho, de morrerem cedo de bala, droga ou trancafiado na cadeia conseguem através da arte ousar e mostrar sua cara.

A minha ação artística contribui para que esses jovens possam se perceber capazes de lutar por uma existência mais digna, acreditar em si e irem para além da triste narrativa. Foi assim em Cidade de Deus, Cidade dos Homens, Capitães da Areia, 400 contra 1, Trash,

A questão de fundo que não se quer debater é a Educação formal que esses jovens recebem e todos nossos jovens recebem. Uma Educação que forma pessoas para competir no mercado de trabalho e serem consumidores funcionais. Uma Educação que, salvo em raras exceções, não pensa o futuro de uma sociedade mas que apenas quer resultados sem ver o caminho seguido. Esses jovens em outras sociedades seriam incentivados a continuar estudando e não apenas para seu proveito próprio mas para o benefício de toda a sociedade. Criamos o mito de que todos nós podemos ter tudo o que quisermos se lutarmos muito pelo que queremos. Mas o mito só fala do indivíduo isolado e não do coletivo, o que cria uma exclusão enorme e uma desilusão tremenda que leva a reações violentas destrutivas e auto destrutivas. É duro ter que ouvir que infelizmente apesar de seus esforços você não vai alcançar o que você almeja.

A Cultura é maior que o Entretenimento! Para quem só pensa em mercado nossos produtos poderiam ser muito melhores se houvesse mais gente envolvida na concepção deles e sendo mais acessível à todos. E claro com mais diversidade. O que acontece hoje no Brasil é um reflexo de uma narrativa um tanto narcisista e imatura de que eu sei o que é certo e excluo o que é diferente da minha opinião. Um apego ao seu micro poder, as suas certezas e convicções, não é de hoje que o diálogo está num nível muito baixo. Infelizmente fazemos muitos stories e fazemos menos História.

Talvez a geração mais nova perceba o engodo de nossos espelhos touchscreen e queira algo melhor.

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