Ligando os Pontinhos

Um projeto que realizei em 2010 numa produção da Fundação José de Paiva Netto com o Ministério da Cultura e que tinha como tema Pontos de Cultura que haviam recebido um prêmio pelo seu trabalho com crianças e jovens no sentido de resgatar tradições, fortalecer suas identidades, retirar da violência, discutir a cidadania, empoderamento e comunicação.

Foi um belo trabalho de equipe que dirigi. Minha estreia na direção de documentários.

Foram nove cidades e dez programas em que as crianças e os jovens apresentavam seus projetos e nos diziam o que queriam que nós mostrássemos no programa.

Os posts são sobre os lugares e aquilo que vi.

Aqui vai o link do Teaser do Programa.


Tensão Pré Natal

A cabeça mais rápida que mão.

Tenho um tempo sem me conectar.

Sem comentar, inventar, sem criar.

Estou em gestação.

Um novo passo.

Um projeto que começa dentro da minha casa.

Vou aplicar meu método de trabalho na direção de documentários.

Visitando nove cidades vou interagindo, por que é assim meu modo de trabalhar, com nove Pontos de Cultura. Vou captar… conhecer…. enfim participar, interferir e estimular as crianças/jovens de cada um desses lugares a fazerem um retrato do espaço cultural.

Quando morava em Paris fui fazer um teste para atuar numa companhia de teatro em inglês e o diretor me perguntou o que eu considerava a mais importante função do diretor. Eu respondi que era inspirar as pessoas. Motivar as pessoas. Estimular elas e dar suporte para que elas pudessem experimentar. Ele ficou em silêncio e sorriu. Porém ficou só no discurso. Num momento do teste prático ele não participava. Ficava só olhando. Fiquei perdido e claro num fui aceito.

Só que essa convicção que expressei naquele me momento e que me acompanha até hoje eu já tinha antes daquele encontro. E confesso que a experiência dolorosa deste momento me fez enxergar que discurso só não basta precisa ação.

No momento agora que me exponho como diretor sei que a imperfeição e a fragilidade só podem ser superadas com flexibilidade e escuta. Pois de outro modo será contabilizar frustrações e desejos não atendidos.

O dialogo que tenho feito nesse projeto com meus interlocutores é de clareza, transparência e se deixar ver para que estimule movimento conjunto.

Colaboração.

Na época em que trabalhei na série Cidade dos Homens eu chamava meu método de colaborativo. Mas nem sempre é assim.

O tempo que se dispõe é fundamental.

Se por um lado liberta a criação por outro lado limita a mesma por que o áudio visual é um processo de fixação de imagem e som para sua posterior manipulação sem a presença dos atores. Ou seja por mais que se queira disparar a câmera o tempo todo com o intento de captar todo o processo e todas as colaborações de cada indivíduo, uma pré seleção se faz para que se possa aprimorar.

Excesso ou abstenção são os caminhos do Homem solitário. (Margeuritte Youcernar em Memórias de Adriano)

É o que motiva que realmente importa. E que por fim se expressa no produto final.

Quanto nos aprofundarmos no que nos motiva mais conseguimos aprimorar nossa comunicação.

Hoje é domingo e na segunda feira parto para o Vale do Jequitinonha conhecer o Centro de Cultura e Desenvolvimento da Cidadania.

O roteiro está pronto para a etapa de produção.

O trabalho que realizam lá é lindo. Muitos jogos, muita valorização da vida, do afeto, do comprometimento com seu desenvolvimento, com uma pedagogia do convívio… e uma expressão de Beleza que enche os sentidos.

Isso foi o que a Pesquisa trouxe para mim…

Imagina quando eu estiver lá.

Tem muito canto e dança em roda.

Se der eu publico imagens de lá.

Hoje foi o primeiro dia de gravação.

Foi lindo estou cansado e vou jantar continuo depois….

Amanhã tem mais.


Pelo Brasil Afora

Estou de volta a SP depois de duas viagens maravilhosas.
Conheci Araçuai, no vale do Jequitinonha.
Um projeto encantador de educação informal, de arte, de acolhimento e de valorizar as crianças. Foi muito emocionante. Uma educação afetiva é o que precisamos.
Professoras motivadas, Advete, Cleia, Paula e mais outras. Francielly, Igor e Clever nossos apresentadores mirins.
Maria Lira. A perma cultura. O cinema dos meninos de Araçuai.
Depois foi Olinda, Pernambuco.
Povo guerreiro. Povo festeiro.
Povo da Alegria. Povo da Paixão.
Muitos mistérios no Terreiro da Umbigada, no Terreiro Oxum Karê.
Mãe Beth, Kinho e toda sua linda família de muitos filhos.
São quase duzentas horas de material gravado.
A equipe Gustavo, René, Angélica, Raphael e eu ralando com muito prazer.
Faltam ainda mais sete pontos de cultura.
Lendo o livro do Celio Turino, ex secretário da Diversidade Cultural, entendi que o Ponto de Cultura é a Bolsa familia da cultura.
No meio do processo sei que temos muito e podemos tirar vários programas. O segredo tem sido muita clareza, díalogo e transparência. Eu vou para cada lugar disposto a ouvir, a dar, e a receber. Quero que cada programa reflita o lugar e que não seja apenas a minha visão mas uma visão daquilo que o ponto quis me dar.


O que faz a diferença?

O que aprendi com o Projeto Ligando os Pontinhos é que as pessoas fazem a diferença.

Métodos, Sistemas, Organização, Produção Cultural, Transformação, Libertação, Criação Artística, Educação, Filosofia, Revolução, Idéias… o que quer que seja surge de pessoas. De indivíduos que se dispõem a sair do lugar comum da massa mediocre dominada pela passividade, pelo lugar comum da comodidade, conformismo, e pelo individualismo doente para se dedicarem a dar um rumo a sua vida e mobilizarem  o meio em que elas vivem.

Engraçado que nós que passamos o tempo a admirar o big brother do Norte (EUA ou USA) ainda não somos capazes de entender que a  mensagem que 90% dos filmes que são produzidos lá dão é de que VOCÊ FAZ A DIFERENÇA!

Enquanto aqui continuamos na denúncia e a repetir um discurso de que nada adianta por que estamos fadado a desgraça. Um pessimismo que facilita a vida dos dominadores e reforça nossa atitude submissa.

Autonomia, Protagonismo, Empoderamento.

São as 3 palavras da política que norteiam o projeto Ponto de Cultura. Uma proposta de governo que simplesmente acredita que dando meios aos grupos que já estão organizados eles poderão dar continuidade aos trabalhos e ter uma existência menos precária e atendendo sem burocracias ou espera uma população que quer cultura, arte, beleza.

A Cultura e a Arte fazem parte de uma cesta básica do cidadão. Não são um luxo que se pode ascender sómente após ter alcançado um status social “x”. Este conceito é o que move o projeto Ponto de Cultura e faz a diferença.

Claro que esta produção não aparece para grande mídia e nem produz para ela. Essa produção serve primeiramente aos seus próprios produtores e ao lugar onde ela é produzida.

Para o mercado é pior ainda por que essas pessoas escapam ao seu domínio.

Pensem bem nisso antes de votar.

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